15 de jan. de 2009

Um desejo para 2009!!

Amizades Espirituais Ed René Kivitz “(...)A maneira como nos relacionamos com os objetos é transferida para as pessoas. Organizamos a agenda como quem ajeita um painel de controle, colocando cada pessoa num lugar de fácil acesso, do outro lado de um botão do celular ou ao alcance da mão, na exata distância entre o mouse e a remessa do email. Pessoas que acionamos quando bem desejamos ou delas necessitamos. Pessoas que se tornam biotecnoparafernálias com a missão literal de funcionar para nos suprir e servir. Talvez de tão acostumados a interagir com secretárias eletrônicas já não saibamos o que fazer, com que tom falar, com que dosagem de afetividade temperar a fala quando alguém de carne e osso nos atende. E assim vamos tocando os dias. Maridos usando esposas, filhos usando pais, patrões usando seus funcionários, pastores usando seus rebanhos, empreendedores usando seus clientes, numa fila interminável de relacionamentos utilitaristas, que acontecem na dinâmica de um vice-versa sem fim. Com isso, perdemos a capacidade de estar ao lado desinteressadamente mesmo quando a única coisa que se pode fazer é estar ao lado. Manipuladores de máquinas, fomos mordidos pelo vírus da onipotência que a tudo pretende fazer funcionar, e já admitimos que há momentos na vida dos amigos quando tudo o que podemos fazer é estar ao lado e ouvir: ‘Eu sabia que você viria.’ Larry Crabb fala sobre a comunidade como ‘o lugar’ mais seguro da Terra, e diz que nos tornamos consertadores – não podemos suportar um problema a respeito do qual nada possamos fazer. Nossa preocupação é melhor as coisas. Ouvimos desabafos e confissões entre lágrimas e os rotulamos como se fossem problemas a resolver. Ocupamo-nos em diagnosticar, abrimos nossas maletas de frases feitas e chavões como quem saca ferramentas, tecnobisturis para consertar tecnopessoas que recebemos não para abraçar, mas para estender sobre o balcão da pseudo-oficina-psico-espiritual. Chega de campanhas políticas, apelos institucionais, convocações para a ‘obra do Senhor’, atividades religiosas e frenesi expansionistas. Já é hora de pagar o preço, qualquer que seja ele, diz Crabb, de fazer parte de uma comunidade espiritual, e não de uma organização eclesiástica. Já é hora de nos lembrarmos que ‘não sois máquinas, homens é que sois’, como profetizou a pedra chamada Chaplin. Quero amigos. Amigos que voltem ao campo de batalha e arrisquem a vida por mim. Amigos que me tomem nos braços, ainda que seja quase tarde. E quero viver à altura de cada um deles.” Fragmento do livro Outra Espiritualidade