4 de set. de 2009

Dar-se enfim
O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio-pleno que se estava escarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: ah....abri as mãos e o coração, e não estou perdendo nada!
E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!
Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser. Mas vem uma segurança estranha: sempre ter-se-à o que gastar.
Não ter pois avareza com esse vazio-pleno: gastá-lo.
Clarice Lispector em A Descoberta do Mundo - Editora Rocco