“Não há possibilidade de pensarmos o amanhã, mais próximo ou mais remoto, sem que nos achemos em processo permanente de “emersão” do hoje, “molhados” do tempo que vivemos, tocados por seus desafios, instigados por seus problemas, inseguros ante a insensatez que anuncia desastres, tomados de justa raiva em face das injustiças profundas que expressam, em níveis que causam assombro, a capacidade humana de transgressão da ética. Ou também alentados por testemunhos de gratuita amorosidade à vida, que fortalecem, em nós, a necessária, mas às vezes combalida esperança.(...) Pensar o amanhã é assim fazer profecia, mas o profeta não é um velho de barbas brancas longa e brancas, de olhos abertos e vivos, de cajado na mão, pouco preocupado com suas vestes, discursando palavras alucinadas. Pelo contrário, o profeta é o que, fundado no que vive, no que vê, no que escuta, no que percebe, no que intelige, a raiz do exercício de sua curiosidade epistemológica, atento aos sinais que procura compreender, apoiado na leitura do mundo e das palavras, antigas e novas, à base de quanto e de como se expõe, tornando-se assim cada vez mais uma presença no mundo à altura de seu tempo, fala quase adivinhando, na verdade, intuindo, do que pode ocorrer nesta ou naquela dimensão da experiência histórico-social.(...) Para mim, ao repensar nos dados concretos da realidade, sendo vivida, o pensamento profético, que é também utópico, implica a denuncia de como estamos vivendo e o anuncio de como poderíamos viver. É um pensamento esperançoso, por isso mesmo. É neste sentido que, como o entendo, o pensamento profético não apenas fala do que pode vir, mas, falando de como está sendo a realidade, denunciando-a, anuncia um mundo melhor. Para mim, uma das bonitezas do anúncio profético está em que não anuncia o que virá necessariamente, mas o que pode vir, ou não. O seu não é um anuncio fatalista ou determinista. Na real profecia, o futuro não é inexorável, é problemático. Há diferentes possibilidades de futuro. Reinsisto em não ser possível anuncio sem denuncia e ambos sem o ensaio de uma certa posição em face do que está ou vem sendo o ser humano."(...)
Esse texto continua. Aliás, o texto me chocou e maravilhou-me, bem como todos os textos de Paulo Freire. O livro todo é excelente. Chama-se Pedagogia da Indignação. Paulo Freire escrevia cartas como formas de comunicação, tornando-as bastantes pessoais e íntimas, haja vista usar algumas palavras que só se encontra e seus textos. Eu, particularmente, adoro sua leitura!
Educar implica em pensarmos juntos e avançar. Divergir para convergir.
Penso ser este o grande sentido da igreja!!
Desculpe-me, são meus devaneios!!